24 nov 2015

A mancha de lama que envolve o Brasil durante a Conferência do Clima

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Por Flávia Pini *

No tabuleiro político que envolve as negociações de um novo acordo climático global na Conferência do Clima (COP 21), em Paris, o Brasil era um dos “peões” mais poderosos. Conhecido por suas belezas naturais e abrigando a Floresta Amazônica, o principal bioma do planeta, o governo brasileiro buscava acordos que garantissem a redução de gases do efeito estufa, ao mesmo tempo em que promovessem o desenvolvimento econômico. Entretanto, nas últimas semanas, o país ficou em “xeque” e precisa, agora, lidar com o seu maior desastre ambiental da história do país.

O rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, Minas Gerais, em novembro de 2015 acarretou a morte de onze pessoas até o momento e a destruição de vilarejos ao longo da Bacia do Rio Doce. Mas a tragédia vai além e supera a contaminação com o Césio-137 em 1987, na capital goiana, e o vazamento de petróleo na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, em 2011.  Os impactos ecológicos serão sentidos por décadas e afetarão as populações, a fauna e a flora que dependiam do curso d’água para sobreviver.

Estimativa do Ibama aponta que o rompimento lançou ao Rio Doce mais de 50 milhões de metros cúbicos de rejeito de mineração – o suficiente para encher 20 mil piscinas olímpicas. A Samarco, empresa responsável pela barragem, argumenta que não havia substâncias tóxicas, mas uma análise laboratorial feita pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Baixo Guandu, no Espírito Santo, mostra que a lama contém partículas de metais pesados, como chumbo, alumínio, ferro, bário, cobre, boro e mercúrio. Resumindo: o Rio Doce está morto e não possui mais nenhuma utilidade.

Por mais que o desastre em Mariana não tenha relação direta com alterações climáticas, ele se transforma em um incômodo fantasma que o Brasil vai carregar nas negociações para o novo acordo climático. Afinal, o país que não consegue evitar um acidente como este por meio de severas fiscalizações, naturalmente perde força no momento de exigir contrapartidas para nações que emitem poluentes.

Agora, é preciso mostrar força e agilidade para reverter este cenário péssimo tanto no âmbito diplomático quanto no ambiental. A principal medida para isso envolve justamente a recuperação do Rio Doce. Sebastião Salgado, renomado fotógrafo e um dos idealizadores do Instituto Terra, que reabilitou o ecossistema no entorno de Aimorés, também em Minas Gerais, já começou a mobilizar o poder público e a iniciativa privada para a criação de um fundo de apoio. O projeto envolve o plantio e manutenção de árvores nas principais nascentes dos rios que compõem a Bacia do Rio Doce. O serviço não será rápido e tampouco barato: serão necessários bilhões de reais e milhões de mudas de árvores para algo que levará décadas até atingir o objetivo.

Em caso de sucesso nesta empreitada, o Brasil passará uma mensagem poderosa para os outros países que também lidam com questões ambientais: com esforço, comprometimento e trabalho sério, a sociedade consegue reverter uma situação ruim para o meio ambiente em algo positivo. Dessa forma, é possível ir além do simples discurso e mostrar, na prática, como as boas iniciativas podem fazer a diferença.

Enquanto os recentes atentados terroristas em Paris colocaram os países em alerta na COP 21 e aumentaram o nível de tensão para as negociações, o desastre em Mariana fez o Brasil ficar com uma mancha de lama em sua imagem. Cabe agora limpá-la e garantir que o país continue na linha de frente por um novo acordo climático que beneficie o Planeta Terra nas próximas gerações.

 

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* Flávia Pini é Diretora de Marketing da GreenClick