15 jul 2015

“O homem também é a natureza”

homem

Em pé ao lado de uma árvore, com um chapéu que encobria sua cabeça e o protegia do sol, Sebastião Salgado contemplava o horizonte e avistava a região onde cresceu, em Aimorés, Minas Gerais. O fotógrafo, que conquistou o mundo com suas imagens, conta que ali, na pequena cidade mineira, desenvolveu sua técnica. “Cada fotógrafo desenvolve uma maneira de olhar que leva em conta a sua história. Eu desenvolvi a minha aqui”, afirmou, apontando para as montanhas.

A cena retratada no documentário “O Sal da Terra”, dirigido por Wim Wenders, traz a história do fotógrafo brasileiro mundialmente reconhecido por suas obras monumentais e por mostrar problemas sociais. Entretanto, a produção audiovisual mostra uma faceta pouco conhecida do profissional: sua relação com o meio ambiente.

É a natureza, e não os seres humanos, que trazem contexto aos retratos que mostravam e expunham as mazelas da sociedade – seja em uma fazenda na América Latina, no deserto africano ou em uma zona operária de uma grande cidade europeia. Ou seja, é o cenário ideal para compor as fotografias.

Entretanto, é na reflexão de sua própria atuação profissional que aparece uma revelação importante: o meio ambiente está intimamente ligado ao homem, sendo uma extensão de suas ações ao mesmo tempo em que interfere em nossas práticas. “Eu sou a natureza tanto quanto uma tartaruga e uma árvore também são”, ensina Sebastião Salgado ao explicar sua última produção, “Gênesis” – uma verdadeira obra-prima da arte fotográfica.

Este trabalho fotográfico é uma “homenagem ao planeta”, ressaltado pelo sucesso do Instituto Terra, criado por ele e sua mulher para replantar a floresta de Mata Atlântica da fazenda onde ele cresceu, em Aimorés. Esta iniciativa fez o fotógrafo retomar o gosto pelo seu papel de observador social – abalada após registrar a miséria no solo africano.

Compreender que nossas práticas e estilos de vida estão intimamente ligados à natureza é um dos principais desafios que hoje a sociedade enfrenta. Ao mesmo tempo em que crescem denúncias de desmatamento e exploração dos recursos naturais, poucas atitudes são tomadas por governos e sociedade civil para reverter esse quadro. É preciso fazer mais e garantir que a natureza, responsável por desenvolver o olhar de Sebastião Salgado, possa encantar novas pessoas nas gerações futuras.

* Flávia Pini é Diretora de Marketing da GreenClick, empresa que contribui com a neutralização da emissão de CO2 no país