08 set 2015

“Se o homem continuar a devastar, esquiadores e corredores de montanha serão atletas em extinção”

Mirlene Picin

Mirlene Picin, competidora de corrida de montanha e de biathlon, explica o projeto “Podium Verde”, que transforma suas medalhas em mudas

 

A atleta Mirlene Picin é uma das mais experientes do circuito de corridas de rua, com medalhas em diversas competições. Ela também é um dos principais nomes do Brasil em esportes de neve, com mais de 20 medalhas no esqui cross-country e biathlon. Além de sua extrema habilidade, a brasileira sabe que um bom desempenho nestas modalidades passa pela questão ambiental. Por isso, fechou parceria com a VisaFértil, empresa de adubos orgânicos, e criou o projeto “Podium Verde”, uma iniciativa ousada que transforma suas medalhas em mudas para reflorestamento. Do início do ano até agosto, por exemplo, a ação rendeu 305 árvores.

Confira mais detalhes nesta entrevista exclusiva:

 

1 – Quando e como surgiu o projeto Podium Verde com a VisaFértil?

Começou em janeiro de 2015, quando fomos planejar a temporada. A ideia-chave era trabalhar o meio ambiente, foco da companhia, associando às duas modalidades esportivas que pratico e que possuem um laço muito forte com a natureza. Ulisses Girardi, presidente da VisaFértil, é uma pessoa engajada em causas humanitárias e educacionais, com uma visão à frente do seu tempo. As ideias sempre estiveram comigo. Faltava apenas uma pessoa como ele para abraçar a causa.

 

2 – Como funciona o projeto?

A medalha de ouro corresponde a 25 mudas, enquanto que a de prata são 20, bronze, 15, a quarta colocação rende dez e a quinta posição, cinco mudas. As árvores são contabilizadas e serão plantadas no final do ano, considerada a melhor época para o desenvolvimento das plantas. O projeto não para no plantio: o trabalho mais difícil é garantir que essas mudas tenham condições de se desenvolverem.

 

3 – Sua carreira depende muito da natureza. Isso a motivou a participar de um projeto sustentável?

Motivou bastante. Em casa já fazemos a separação do lixo e entregamos à cooperativas de reciclagem e temos a preocupação com o uso racional da água, mas eu sentia que deveria fazer mais. Afinal, tenho em minhas mãos uma bandeira poderosa para carregar outra causa: o esporte. Esta ideia se fortaleceu em 2014, depois que comecei a trabalhar em um projeto socioeducacional com crianças. Lá, tive a certeza que somos o exemplo para as futuras gerações e me preocupo com meu singelo legado.

 

Se o homem continuar a devastar, no futuro os esquiadores e corredores de montanha serão atletas em extinção. Tem atleta que acha bacana ser o único que pratica um esporte e parece não se preocupar com o amanhã. Eu penso diferente: quero que os outros tenham acesso e que a modalidade cresça. Não gostaria de ver os esportes que pratico em almanaques, como exemplos de atividades que foram extintas pela condição do clima global.

 

4 – Existe alguma meta para a quantidade de mudas plantadas?

Não existe uma meta, mas também não imaginávamos que, em setembro, já teríamos este número de 305 mudas. Acabei largando em mais provas do que o planejado e as disputas de neve não estavam em minha programação. Agora, com essa quantia já garantida, começamos a pensar no projeto de 2016, pois a intenção é que seja duradouro, agregando novas causas. Até dezembro, a minha preocupação volta-se à preparação como atleta, para que eu possa estar bem nos meses seguintes. Afinal, as sementes só vão ao solo se eu subir ao pódio.