10 jul 2014

O exemplo da Copa e das florestas para o consumo sustentável

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Por Cecília Vick*

No dia 13 de julho, o Brasil sedia a final da Copa do Mundo, cinco dias depois, celebra a proteção às florestas. É curioso que as datas coincidam no país reconhecido pela sua flora e belezas naturais. O período propicia uma reflexão importante, mas ignorada atualmente: o consumo sustentável dos recursos. Porém, nesse jogo, o Brasil segue perdendo de goleada.

Nesse caso não é por falta de esforço governamental. Diversas políticas públicas foram criadas e estimuladas para reduzir o desmatamento ilegal das florestas brasileiras. Relatório divulgado na reunião da ONU de junho sobre mudanças climáticas, mostra que o país reduziu cerca de 70% da extração clandestina de árvores e manteve 80% da Amazônia considerada original. Estes números nos colocam como segundo colocado, tirando o título vergonhoso de campeão mundial do desmatamento (posição ocupada pela Indonésia neste ano).

Para o governo, mais importante do que comemorar a queda, foi acender um sinal de alerta. Após cinco anos caindo, a taxa de árvores desmatadas cresceu 28% em 2013. Pode ser apenas um ponto isolado. Mas também pode significar o relaxamento da fiscalização e o retorno de velhos hábitos de exploração e esgotamento de recursos naturais.

Até porque ao vermos o comportamento de alguns torcedores durante a Copa do Mundo, é difícil acreditar que o Brasil está preparado para adotar um consumo baseado em sustentabilidade. O lixo se amontoa em ruas que reúnem aglomerados de torcedores para exibição de jogos do Mundial. Na Vila Madalena, tradicional bairro boêmio da capital paulista, mais de 50 toneladas de resíduos sólidos foram descartados em via pública durante cada partida da seleção brasileira. Pesquisa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) estima que durante o evento devem ser produzidos 15 mil toneladas a mais de lixo – a grande maioria sem o devido descarte. Talvez por isso surpreenda tanto o exemplo de japoneses coletando o próprio lixo em estádios, quando, na verdade, deveria ser habitual.

Para proteger as florestas, primeiro é necessário diminuir a quantidade de resíduos. Ambas as atitudes são etapas do consumo sustentável, conceito que ganhou força nos últimos anos. Até porque não adianta instaurar políticas de redução de emissão de carbono e de poluentes se a própria população não tiver consciência do seu papel nesse processo. É preciso mudar a mentalidade das pessoas para que as ações possam surtir o efeito desejado.

O planeta já deu sinais de que está no limite de sua capacidade. Apenas com um consumo menor e mais sustentável poderemos reverter esse quadro. Ao cuidarmos do nosso próprio lixo, daremos o primeiro passo no sentido de proteger não só as florestas, mas todo o ambiente natural que nos cerca.

*Cecília Vick é fundadora da GreenClick, empresa que contribui com a neutralização da emissão de CO2 no país.