A economia de água não pode parar.
A população fez sua parte, o poder público adotou algumas medidas emergenciais e o clima também ajudou. O cenário catastrófico que se desenhava com a crise hídrica no sudeste brasileiro entre 2014 e 2015 não se concretizou e as principais represas de abastecimento de água dão sinais de recuperação neste ano. Entretanto, é preciso colocar em prática as lições aprendidas nesse episódio e manter a vigilância constante: a economia de água não pode parar justamente para evitar novos períodos de seca no Brasil.
O principal sinal de recuperação é do Sistema Cantareira, principal fonte de abastecimento na região metropolitana de São Paulo. Após operar no vermelho e ter que utilizar duas reservas do volume morto (água situada abaixo do nível das comportas), o complexo está com 47% da sua capacidade útil – se levarmos em conta o volume total, o índice sobe para 59% de acordo com a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Além disso, o outono de 2016 foi o mais chuvoso em quatro anos e o inverno também deve seguir essa lógica, de acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
Contudo, apesar dos números positivos na comparação com dois anos atrás, não podemos nos enganar: o desabastecimento pode voltar se interrompermos a economia de água. É preciso relembrar que o Sistema Cantareira atendia, nos áureos tempos, quase 10 milhões de habitantes e, hoje, esta quantidade não chega a oito milhões – e mesmo assim está abaixo da metade no índice que leva em conta apenas o volume útil. Resumindo: um novo período de estiagem certamente vai derrubar o armazenamento das empresas e deixar as torneiras secas novamente.
O alerta enviado pela crise hídrica evidencia que a água potável não é um recurso natural infinito. Reduzir o consumo não pode ser apenas uma medida paliativa em épocas de crise, mas sim um estilo de vida a ser seguido pela população e as próximas gerações. Hábitos simples, como a redução no tempo de banho, a utilização da máquina de lavar roupas em sua carga máxima e o fechamento adequado de torneiras, têm um impacto considerável na economia total.
Além disso, é preciso pensar a longo prazo e recuperar o ecossistema que protege as principais represas. Estudo conduzido pela empresa Arcplan em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica mostra que 76,5% dos rios que formam o Sistema Cantareira tiveram as matas ciliares desmatadas. Sem essa cobertura, é impossível proteger os cursos d’água e, consequentemente, evitar novas secas nas represas.
A sociedade civil e o poder público mostraram que, com um pouco de boa vontade e iniciativa, é possível resolver, ao menos em partes, problemas ambientais no Brasil. Agora, é hora de mostrar que essas práticas não são tomadas apenas em épocas de crise. Afinal, ou a população adota de vez um estilo de vida mais sustentável, ou caminharemos lentamente para a devastação dos nossos recursos naturais.
* Flávia Pini é Diretora de Marketing da GreenClick, empresa que contribui com a neutralização da emissão de CO2 no país
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