É errado colocar os problemas econômicos à frente dos ecológicos, diz especialista
O astrofísico Hubert Reeves considera que a noção de que a economia tem prioridade sobre a ecologia está errada e que, a existir um “ponto sem regresso” em termos de alterações climáticas, o planeta está a aproximar-se dele.
Numa entrevista à Lusa antes de protagonizar uma conferência hoje na Porto Business School subordinada ao tema “Cosmos, Sustentabilidade e Responsabilidade”, o cientista franco-canadiano afirmou que a situação do planeta agravou-se nos últimos anos, tendo regressado a ideia de que a “economia está primeiro”.
“A ideia que passa é que temos de resolver os problemas económicos antes dos problemas ecológicos. E isso está errado, porque se não tivermos ecologia não teremos economia. A economia está muito dependente do estado da situação”, afirmou o autor de “Onde cresce o perigo surge também a salvação”.
Reeves, recetor de inúmeras distinções ao longo das décadas de trabalho, exemplificou a “destruição” da biodiversidade do planeta com os casos das minhocas, “fundamentais para manter a fertilidade do solo”, e das abelhas.
“Estamos a destruir as ofertas gratuitas da natureza, das quais beneficiamos”, afirmou o também presidente da Associação Humanidade e Biodiversidade e ex-diretor do Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS, no original), em França.
O cientista e professor associado da Universidade de Montreal lembra que se costumava dizer que não seria sustentável “ir além de mais dois graus de temperatura”, um cenário que está agora em vista: “A situação está a piorar e se há algo como um ponto sem regresso estamos certamente a aproximar-nos dele.”
Com quatro filhos e oito netos, Reeves reconhece que a preocupação com o futuro da família é um dos motivos que o move, mostrando-se “muito preocupado com qual vai ser o estado do planeta daqui a 50 anos, pode ser muito mau, pode ser melhor, ninguém sabe”.
Hubert Reeves estabelece a distinção entre uma história “bela” e uma história “menos bela”, sendo a primeira a criada pela Natureza e a segunda a dos humanos, que, pela sua própria mão, estão a ameaçar a sustentabilidade do planeta.
“O problema connosco é que somos os melhores em tudo, os melhores e os piores, é algo fantástico. O facto de termos livre arbítrio significa que podemos fazer coisas muito grandes como bombas atómicas. Não sei quão livres são as formigas, provavelmente não muito, mas pelo menos não são perigosas. Por que é assim? Não sei”, reconhece o octogenário.
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico aplicado pela agência Lusa
Fonte: Jornal i
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